quarta-feira, 21 de junho de 2017

Trabalhar "direito" ou desencanar, eis a questão!

Tenho visto que a Finansfera fica um pouco mais tranquila durante a semana. Todo mundo trabalhando árduo para conseguir conquistar seus objetivos? Não tenho dúvida disso. Mas muitas vezes me pego pensando até que ponto as relações de trabalho estão saudáveis hoje em dia.

Desde que comecei a trabalhar, uma coisa me incomodava demais: a falta de limitação atualmente entre horário de trabalho e horário de vida pessoal. Parece que de lá para cá as coisas apenas pioraram.

É provável que você não trabalhe em um escritório ou numa empresa nacional ou multinacional e não conheça essa realidade (dura). Sorte a sua! Para grande parte da população, a linha que separa o horário do trabalho com sua vida pessoal está cada vez mais tênue.

Vejamos 30 anos atrás. Na verdade, não precisamos ir muito longe. Vejamos a geração dos nossos pais. Meus pais iam trabalhar, das 9h às 18h. Tinham a sua hora de almoço. Saiam e (entravam) pontualmente. Hora extra? Somente com autorização por extrema necessidade e sempre remunerada. Férias? De 30 dias e sem interrupções. Laptop, celular corporativo ou qualquer ferramenta semelhante? Só cargos extremamente elevados.

Vejamos hoje: não temos muito horário para entrar, mas também não temos nenhum horário para sair (e ainda nos gabamos que temos "flexibilidade". Home office? Claro, podemos fazer sim, afinal, o resultado é que importa e você jamais conseguirá entregá-lo trabalhando suas 8h/dia. Hora do almoço? De vez em quando e raramente com "amigos", normalmente é o famoso "work lunch" ou uma passadinha em algum lugar porque o dia tem que render. Horas extras? Sim, muitas. E não remuneradas. E digo mais, muitas vezes elas não são nem registradas. Férias? Claro. Divida em 10 vezes e esteja disponível para emergências (que ocorrerão dia sim, dia não, se você tiver sorte). Parabéeeeeeeeens, vc ganhou um laptop, um celular corporativo e qualquer outra ferramenta que te permitirá se tornar um escravo nosso. Uhul!

Pode parecer exagerado, mas é exatamente assim que vejo a relação de trabalho hoje em dia. As empresas usam palavras bonitas como home office, flexibilidade, short friday e os funcionários se enganam achando que eles estão "empoderados".
- Eu que decido a hora que trabalho. Ah, jura? Então porque você fica vidrado num churrasco em um sábado quando chega email na sua caixa pelo celular?
Para mim, isso é trabalho escravo modernizado. E foi por isso que eu me desencantei tão rápido com esse trabalho no mundo corporativo.

Alguns dirão: então você escolheu a profissão errada! Será? Quando troco idéias com amigos, os assuntos são sempre os mesmos: queria ter mais tempo, queria equilibrar vida profissional e pessoal, queria ganhar mais dinheiro, queria, queria, queria. Nos tempos de crise atuais, a situação está ainda pior:
chefe: ah, você acha que está trabalhando muito? Você sabia que tem 14 milhões de brasileiros loucos para ocuparem o seu lugar?
você: pois é...

É o como, e não o que. Trabalhar pode e deve ser bom. Deve ser positivo. Deve ser enriquecedor. Não tenho dúvidas disso. Tudo se perde quando a relação neo-escravista (sim, inventei esse termo..hihihi) passa a tomar conta do nosso ambiente de trabalho. Alguns exemplos:
- já vai? então quer dizer que você está desmotivado? (horário - 18h)
- fulano, sei que você está com muita coisa, mas teremos um corte, você terá que assumir mais Y.
- semana que vem é semana de avaliação de desempenho e quem entregar mais e receberá o único aumento que temos planejado para este ano!
- você tem certeza que vai sair de férias? Mas olha, vai ter que ficar conectado, porque o projeto não pode parar né?
- ciclano, e aquele feriadão ein? Chefe está querendo X, Y, Z, vamos ter que nos reunir para dar uma adiantada né?
- (no HH): nossa, que loucura né? tenho trabalhado em média 14hs por dia, mas hoje em dia é assim mesmo né?

NÃO, NÃO É E NÃO TEM QUE SER. Eu estou inserida nesse meio. É difícil sair depois que você já entrou e já fez carreira nisso. Quando você muda de empresa pode ter a sorte de encontrar uma situação melhor (que não é meu caso hoje). Minha situação hoje é: 14 horas diárias de trabalho (pelo menos), noites viradas fazendo planilhas, cobrança atrás de cobrança (e zero tempo para "respirar") e um ambiente extremamente hostil. Posso mudar de empresa? Claro. As coisas mudarão 90%? Não.

Sempre quis a IF, mas nunca quis tanto quanto hoje. A falta de IF é o que faz cada vez mais pessoas se sujeitarem a esse tipo de ambiente e não falarem: CHEGA! Eu não vou ficar, eu não vou fazer e eu não concordo! Os carnês no final do mês nos transformam em pessoas mais "fortes". E vamos superando, dia após dia. Vamos deixando a academia de lado, o encontro com os amigos para 1x ao ano e no final de semana, quando não se trabalha, você só quer descansar assistindo netflix para recarregar as baterias.

Gente, onde o mundo se perdeu? Onde a relação de respeito: "8hs suas são minhas, o resto elas são suas e eu não tenho nada a ver com isso" foi parar? Meus pais olham para mim e sei o que eles sentem: pena. Pena porque na minha idade eles conseguiam aproveitar a vida muito melhor. Com muito menos dinheiro, mas a vida para ser vivida, principalmente na juventude, não precisa de grandes quantias.

Então, conto os dias para a IF. O dia que entrarei no escritório e saberei que não dependo de nada e nem de ninguém e que poderei fazer meu horário de 8hs/diárias e simplesmente IR EMBORA quando eu quiser.

Hoje foi um post desabafo. Não tem sido tempos fáceis de trabalho, mas tenho uma garra enorme e sei que essa fase vai passar, afinal, estamos investindo para isso, certo?! =)

E vocês, o que tem feito para trabalhar pelos seus sonhos, mas sem deixar a vida passar por uma janela?

11 comentários:

  1. Eu trabalho todo dia das 7h às 20h.. 20h30..
    Trabalho sábado também até umas 16h30.. 17h..

    tenho mais 2 semanas de férias, que teoricamente já tirei.

    Tenho a sensação que para ter um "bom salário", só sob essas circunstâncias. É muito difícil arranjar um emprego que bate ponto e tenha salários superiores a 6 ou 7 mil reais.

    Sei bem como é. As vezes penso em parar agora mesmo, com meus minguados.

    Outra coisa que já pensei foi em sair e pegar um emprego "mais de boa".

    Também desejo a IF mais que tudo atualmente. Só tenho medo de nunca saber quando parar, e perder minha vida nisso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu amigo,
      assim que eu puder eu paro, sem dó e nem piedade...kkk

      Já tenho tudo listado o que farei qndo parar.

      Abs.
      EQRP

      Excluir
    2. É pessoal, tenho sensações parecidas. Tenho planos para depois que parar de trabalhar, avaliar se vou querer voltar e, caso queira, pegar algo bem tranquilo também.
      Não podemos nos "perder" nessa vida não. A vida é muito boa para ser vivida apenas aos finais de semana (e olhe lá...). Vamos que vamos!!

      Excluir
  2. Tem uma parcela de funcionários que tem uma boa dose de culpa nisso aí.
    São os funcionários puxa-sacos fazedores de média, funcionários medrosos ou muito necessitados do emprego que acreditam que se sujeitar sorrindo a qualquer tipo de merda seja o caminho do sucesso.
    Tem também outros funcionários que não se enquadram no primeiro grupo mas após muito tempo vivendo nesse sistema se tornam praticamente viciados em trabalho e sem muitas motivações para aproveitar a vida fora dele, já que o trabalho se tornou o grande protagonista de suas vidas e isso impediu que essas pessoas descobrissem suas outras possibilidades.
    O japa citou aí em cima que pra ganhar mais de 6 ou 7k dificilmente não se passa por isso, com todo o respeito japa, embora você tenha sua razão a grande maioria dos brasileiros que trabalha nesses sistema nem chega a ganhar isso.
    Aliás a maioria ganha muito menos que isso e esse tipo de comentário só evidência a bolha em que algumas pessoas vivem, estamos num país onde a grosso modo quem ganha mais de 5k, ganha muito.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fantástico! É isso mesmo!
      Os puxadores-de-saco me "tiram do sério" frequentemente. É impressionante o que uma pessoa com ambição é capaz de fazer. Me embrulha o estômago, mas tenho que continuar.
      Os funcionários que se tornam viciados em trabalho, são ainda pior quando eles se tornam seus chefes. É o caso do meu...
      De fato, acredito que muitos aqui na finansfera são "privilegiados" - outro dia vi algum blog de alguem que aporta 20k, 25k ao mês - no Brasil, pessoas que conseguem chegar nesse nível, estão realmente de parabéns!
      Abs!

      Excluir
    2. Conheci o blog há pouco tempo e me parece que hoje você é uma das vencedoras fazer aportes em valores semelhantes ou até maiores. Muito bacana ver que essa evolução aconteceu e você está cada vez mais próxima de se libertar desse sistema. Parabéns!

      Excluir
  3. putz,
    acabei de receber a minha planilha para a semana de avaliação de desempenho, coisa que detesto...aff.

    fazer o quê, não é mesmo.
    Por essas e outras que Eu Quero Renda Passiva e não mais passar por isso.

    Abs.
    EQRP

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Somos 2! Estou na fase de avaliação de desempenho nesta semana também. Pense que +1 avaliação = -1 avaliação pela frente...hehehe
      Abs!

      Excluir
  4. Belo post, nada mudou desde que você escreveu, pelo contrário, com a pandemia as exigências só aumentaram. Diariamente somos massacrados pelo neo escravismo. E o pior é que se você reclamar disso, você que é frouxo, não veste a camisa, é vagabundo, etc.
    Só com a IF ou uma TF mesmo para nos tirar desse mundo corporativo escravagista.

    ResponderExcluir
  5. Acabei "achando" o seu blog recentemente e é incrível como me identifico. Este post, apesar de ser antigo, descreve de maneira muito similar o que sinto.

    ResponderExcluir

Obrigada por tornar esse espaço um lugar fértil para troca de idéias! =)