quarta-feira, 9 de maio de 2018

A busca pela felicidade x adoecimento da população

Em época de bolsa em baixa (e meus ativos em baixa), stress no trabalho e encontro com antigos e novos amigos, comecei a ligar alguns pontos sobre a vida e quero compartilhar aqui com vocês.

Tem sido cada vez mais comuns em roda de amigos (com bom padrão de vida por não economizarem nada) conversas do tipo: fulano está com depressão, ciclano tem tomado o remédio X, Y, Z para se sentir bem, a fulana está indo ao psicólogo tentar encontrar uma saída para vida dela.

Honestamente, o número  de amigos que eu tenho e que fazem parte dessa população que eu considero "doente" tem aumentado. E eu tenho me perguntado o porquê disso.

Se analisarmos as origens dessas pessoas, não chegaremos a uma conclusão efetiva. Tenho amigos que vieram literalmente da pobreza, ralaram bastante duro para chegar em um patamar de emprego que hoje tem e mesmo assim não se sentem felizes ou satisfeitos com a vida que tem.

Outros que parecem até equilibrados e felizes, no fim das contas sei que se automedicam por outras pessoas. Por fim, há aqueles que pouco sofreram alguma dificuldade na vida e que ainda assim não encontram o caminho da felicidade, mesmo tendo tudo do melhor que a vida possa oferecer.

Sei  que tenho levado este texto para o âmbito financeiro da conversa e que a vida não é só isso. Ao conversar com essas pessoas, os sentimentos de angustia, infelicidade e não tranquilidade (dizem eles) estão ligados mais ao aspecto financeiro do que qualquer outro e é por isso que quero me concentrar nesse aspecto, bem como o propósito deste blog é justamente esse também.

Mas então, o que levaria pessoas de distintas classes sociais de origem, com patamar extermamente confortável financeiramente hoje em dia, a se auto-medicarem, dependerem de médicos e se considerarem depressivos e infelizes?

Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que a forma com que ganhamos nosso dinheiro hoje não é sadia. Vejam bem, tenho amizade com pessoas que trabalham em diversas empresas, todas essas que me refiro, estão em empresas privadas, a grande maioria, multinacionais.

As reclamações são sempre as mesmas: trabalho demais, não sou reconhecido, tenho chefes insuportáveis, meus colegas só querem puxar meu tapete, não consigo ter uma vida social sadia durante semana e às vezes nem aos fins de semana, não me sinto realizado pelas coisas que faço no trabalho, não consigo confiar nas pessoas que trabalho, passo 12 horas do meu dia em um lugar que eu não gosto e não tenho tempo para fazer qualquer atividade que me dê prazer ao longo da semana.

É raro ver alguém 100% ou que seja 75% satisfeito com sua relação de trabalho. E a saída que as pessoas tem encontrado para não surtarem em tempos modernos é a medicação psiquiátrica (e muitas vezes as compras). Fico extremamente triste em ver jovens, da minha idade, tão dependentes desses compostos químicos que nada mais fazem que mexer com seus neurotransmissores. As  pessoas hoje em dia não só tem que beber para se sentirem mais felizes, mas se medicarem diariamente.

Eu sou das raras pessoas que não faço terapia, não vou a médicos em busca de ajuda química e não me medico. Vida real, é isso que quero e vou enfrentá-la como ela tem de ser.

Ao tentar encontrar o que essas pessoas tem em comum e o que eu e poucos colegas temos de diferente, vi que o principal fator que nos diferencia é a fuga da corrida de ratos. Essas pessoas que aqui chamo de adoecidas, vivem uma corrida de ratos frenética e nem pensam em deixá-la. Consumir é um dos poucos prazeres na busca da felicidade e levar uma vida vazia, porém com status é o que normalmente move a maioria.

Por outro lado, poucos colegas saudáveis tem uma consciencia que essa correria é apenas uma fase. Poupam, investem, vivem uma vida low cost, justamente com o objetivo de dar um "basta" nessa corrida de ratos desenfrada.

Vejam só, as relações de trabalho hoje em dia não são como no passado. A geração dos meus pais usava máquina de escrever, na metade da carreira deles é que o computador apareceu. Trabalhavam com um assunto de cada vez, ao invés de vários. Não tinham facilidade de meio de comunicação, no meio da carreira é que apareceram os beeps e celulares. 8 horas diárias eram a jornada que cumpriam.

E hoje, o que temos? A necessidade de trabalhar com muitos assuntos ao mesmo tempo. Entregar melhor e mais rápido. Estar conectado 24 horas através de celular e principalmente whatsapp. A mistura entre vida pessoal e profissional é praticamente uma obrigação. Pouco controle da jornada de trabalho, correndo o risco de quem a cumpre, ser taxado como desmotivado ou braço curto.

Meus caros, a realidade do mercado de trabalho mudou e mudou muito no Brasil. Infelizmente, as pessoas não  mudaram. As pessoas continuam precisando ter vida, se desligar das tarefas profissionais, encontrar amigos, se exercitarem, ver o pôr-do-sol. A população não pode somente viver  aos sábados e domingos - isso quando vivem.

Quem tem um plano B para essa realidade, consegue levá-la de forma menos adoecida porque está justamente vislumbrando a cenourinha no final da caminhada. A caminhada tem um fim. E só de saber que há uma saída, nós, colegas financeiramente conscientes, conseguimos lidar melhor com a corrida dos ratos. Sabemos que não é pra sempre. Sabemos que é um eforço a mais para uma grande colheita logo menos.

E nossos colegas que não tem um plano B? Que vêem que a vida é só trabalhar e gastar e não pensam que há uma sáida para a corrida dos ratos? Aqueles colegas que gastam todos os meses tudo que ganham porque pensam que assim são mais felizes? Essas pessoas inconscientemente sabem que viverão para o resto das vidas essa realidade e é por isso que procuram outra ajuda (seja através de profissionais psiquiatras, seja através de medicamentos, enfim).

Para mim é muito triste ver pessoas tão capacitadas, inteligentes, com bom padrão de vida se sujeitando a ter uma vida infeliz e superficial, apenas por não pararem para pensar que há uma sáida. E nem estou colocando aqui toda a pressão e deboche que a sociedade faz com aqueles que não estão na corrida de ratos.Tenho poucos amigos que cuja família é muito bem de vida e simplesmente nem entraram na corrida. Esses são alvo de brincadeiras constantes.

Independente se vamos atingir a IF aos 30, 35, 40, 50 anos. Vamos atingi-la. E ao atingi-la, vamos buscar viver uma vida mais tranquila e equilibrada e isso por si só nos motiva hoje em dia a seguir nosso caminho com a consciencia que esse grande dia chegará.

E vocês? Conseguem reparar o quanto nossa sociedade está adoecida?
O quanto as pessoas se pressionam para ganhar mais e gastar mais também?
O quanto o trabalho se tornou uma relação não saudável na vida das pessoas?

Comentem, gostaria de saber se este não é um problema somente do meu círculo social.

Abs,
IFM


18 comentários:

  1. Fala IFM, tranquilo?

    Estou na faculdade, então a maioria dos meus amigos ainda fazem estágio ou apenas estudam.

    Como curso engenharia, temos algumas matérias que é necessário um certo esforço para passar. E por conta disso já vi bastante gente com depressão, crises de ansiedade, etc. Alguns chegam a desistir da faculdade, outros vão levando a base de festas e dps.

    Eu mesmo já tive algumas fases que ficava pensando se realmente valia a pena esse esforço.

    Decidi que vou terminar essa facu e hoje me sinto feliz, gosto da sensação de me desenvolver todos os dias.

    Abraço!

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    1. Olá FEI, como está?
      Realmente, facul de engenharia já é uma prova forte da realidade que vem pela frente. Infelizmente acho que as coisas pioram ao entrar no mercado de trabalho! rs.
      Bom saber que você está conseguindo lidar melhor com essa realidade, tudo no fim está no poder da nossa mente, certo?
      Abs!

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  2. Acho que a depressão crônica do mundo contemporâneo é gerada principalmente pela falta de socialização e por jornadas laborais intensas, coisas que Baumann já cantava a pedra em Amor líquido, por exemplo.

    Queria saber como vc está lidando com a queda livre de FIGS11, considerando que foi um ativo importante pra sua escalada financeira.

    Abs

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    1. Oi Bicho, tudo bem?
      Sim, tem muito disso. Ainda mais pensando que o trabalho poderia ser um lugar de socializacação, mas na verdade raramente construimos relacionamento genuinamente confiáveis nele.

      FIGS11, meu grande amor. rsrs
      Pois bem, estou lidando. Sigo comprada, tranquila. É triste ver essa grande caída dele, mas acredito no fundo. As pessoas que estavam apreensivas com o fim da RMG estão todas saindo, mas eu não vejo motivo para desespero, temos ainda quase 1 ano de RMG pela frente, inclusive.

      E novamente, aprendendo a lidar com RV, o fator emocional é o mais importante n o fim de tudo, não é mesmo?

      Abs!

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  3. Olá IFM, admiro muito o raciocínio que coloca nas postagens. Tenho acompanhado o blog desde o início, pois me identifico com sua história. Sobre essa postagem, vejo muito disso no meu círculo social também. É difícil encontrar alguém para conversar e compartilhar ideias que girem em torno de sair da corrida de ratos, ainda mais se tratando de serviço público que todos aqui pensam em trabalhar até esperar a sonhada aposentadoria do governo. Aqui a maioria não pensa em economiza/investir, mas apenas em programar a próxima viagem, próxima troca de carro., etc. E percebo que isso não se trata de objetivos pessoais, mas muitas vezes de escape contra a insatisfação do dia-a-dia do trabalho. Muitos, inclusive se endividam muito (crédito consignado), pensando que o serviço público traz estabilidade financeira. Até o momento, não encontrei pessoas com o pensamento de acumular riqueza e viver a IF antes de completar a idade para aposentadoria que, aliás, quiçá poderá existir nos padrões atuais, haja vista as incertezas que rodeiam a contabilidade pública. Parabéns pelo blog e por tudo que já conquistou. Obrigado por dedicar seu precioso tempo e conhecimento conosco. Sds., Ricardo

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    1. Oi Ricardo,

      Que bacana seu feedback! Sempre gratificante!
      Como vivo no mundo privado, obviamente idealizo o setor público achando que como a estabilidade é enorme, não deve existir uma série de problemas nele (puxação de tapete, por exemplo). Pelo o que você fala, acho que existem mais semelhanças que diferenças né?
      No passado até pensei em prestar concurso, fiz um curso, mas como acabei sendo promovida e engolida pelo setor privado, acabei desistindo.
      Vale a pena fazer essa transição, você acha?
      Abs!
      IFM

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    2. Oi IFM,
      trabalhei na iniciativa privada e também acabo me envolvendo um pouco atualmente, pois há 5 anos tenho investido no ramo de construção civil residencial, pois tenho formação em engenharia civil e sei que é um negócio lucrativo, se souber controlar os riscos. Então, posso falar que a estabilidade no serviço público é grande sim. Chega até ser um pouco distorcivo em alguns casos. Digo estabilidade de não perder o emprego, de não ser transferido, de receber seu salário em dia, de marcar suas férias antecipadamente com planejamento. A estabilidade também é no valor do salário, o que acaba sendo um aspecto negativo, pois a inflação acaba corroendo o poder aquisitivo. Aumentos no valor salarial depende muito da vontade política. No meu caso, o plano de carreira é só para inglês ver, do tipo R$ 500,00 depois de três anos em um nível. Outro tipo de aumento também advém de cargos em comissão, de chefia, direção e assessoramento. Nesses casos, vejo alguma semelhança na iniciativa privada, do tipo puxação de saco, tapete, mesquinhez etc. (coisas da natureza humana). Eu li que no passado tentou prestar concurso público, achei interessante. Eu ainda acho o serviço público uma boa opção, mas tem que ponderar seus objetivos pessoais e perfil individual, sob pena de amargurar uma frustração profissional e de vida. No meu caso tem valido muito a pena, pois o cargo em que ocupo é exceção no serviço público, pois é bem remunerado, consigo ter um bom padrão de vida com sobras que acabo investindo, para em um futuro próximo (estimo em 8 anos ainda) poder fruir da IF (meu plano B).
      Sds.,
      Ricardo

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  4. Excelente reflexão. As pessoas não entendem que ganhar muito é diferente de ter muito. Quem gasta tudo que ganha, no fim das contas, é eternamente pobre (por maior que seja a renda).

    Abraços!

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  5. A questão da ansiedade e depressão é complexa.
    Cada pessoa deve ser analisada de forma individual, levando em conta vários fatores como personalidade, expectativas, traumas, relações com outras pessoas etc.
    Há estudos que mostram também a influência da alimentação, poluição do ambiente, barulho, falta de luz solar e no caso de homens principalmente vem ocorrendo um fenômeno chamado estrogenização. Esses são assuntos complexos no qual não vou me aprofundar até porque não os domino.

    Você construi seu texto focando mais na relação ansedade/depressão X trabalho.

    Digo a você que muito do que você citou tem haver com expectativas e com as pessoas não serem elas mesmas. No caso das expectativas porque elas muitas vezes não são realisas e acabam trazendo frustrações, isso não só no trabalho como em tudo.
    E infelizmente temos na vida do trabalho e vida social em geral vários atores, para se "dar bem", serem aceitas, bem vistas etc, muita gente faz de conta que é o que não é e isso geralmente traz infelicidade.

    De um tempo pra cá na onda de coachs e livros motivacionais vem se fortalecendo no mundo do trabalho a imagem do funcionário "fodão", aquele que veste a camisa da empresa e se dedica 100% a ela, fica além do horário etc. E cada vez mais quem não tem esse comportamento acaba sendo preterido. Estamos caminhando pro que ocorre no Japão a bastante tempo. Uma sociedade workaholic, onde o 'Fracasso" muitas vezes acaba em suicídio.
    O Bicho Poupão citou aí mais acima a falta de relções sociais.
    Tem muita gente deprimida ou ansiosa que não vive sozinha, gente baladeira, bem articulada, com contatos também pode sofrer isso tudo.
    Enquanto pessoas mais na dela vivem bem. As relações sociais tem importância, mas isso depende de sua qualidade também.
    O tema é longo Não vou continuar senão o texto se alonga muito.

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    1. O tema é muito longo Anon. Eu fiz um filtro bem grande para trazer esse tópico sob a perspectiva financeira...

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  6. Olha só se formos amigas do mesmo círculo social pq enxergo as coisas exatamente assim como vc!
    O mundo está doente, a sociedade está doente, trabalhar 8h/dia é considerado absurdo e isso é muito desgastante!
    Qdo comecei a investir, não pensava em IF, pensava que não queria depender do INSS exclusivamente pq poderia me dar mal, depois de muito tempo é que vi que a IF era uma possibilidade, e realmente é nela que me agarro para aguentar o tranco.
    Amo meu trabalho, amo o que faço, mas trabalhar 12h/ dia é desgastante demais, se tivesse a possibilidade de trabalhar 6h/dia, acho que não iria querer parar de trabalhar nunca.
    Quem sabe com a IF (daqui uns 10-15 anos) eu consiga isso de alguma forma..........

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    1. rsrs acho que não Vanessa!
      Que bom que você gosta muito do seu trabalho. Eu gosto médio. O que já é um avanço. Quando atingira IF eu preferiria trabalhar com algo que agregue mais à sociedade, como uma ONG.
      Abs!

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  7. O que eu acho disso tudo é que, na minha opinião, hoje em dia as pessoas estão, não todas, se vitimizando por qualquer coisa. Conheço pessoas que nunca passaram e nem passam por grandes dificuldades, seja de emprego, seja dificuldades financeiras e estão permanentemente num chororô. São derrotistas o tempo todo. Antigamente, a carga de trabalho, as dificuldades, eram imensamente maiores e quase ninguém vivia em depressão ou algo do gênero

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    1. Tem muito de vitimização Anon, mas discordo que a carga de trabalho era maior antigamente. O que te faz pensar isso?

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  8. O facto das pessoas não terem uma boa educação financeira, obriga a trabalha cada vez mais para pagar as dividas contraídas pelo consumo excessivo.

    Pelo contrario, as pessoas com boa educação financeira e conhecimento sobre investimentos, se sacrificam um pouco hoje para colheram algo grande no futuro.

    Abraço e bons investimentos.

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    1. Isso pouco tem haver com educação financeira. As pessoas citadas no post devem ter bom nivel de formação e conhecimentos.
      Boa parte das pessoas com problemas financeiros não é ignorante sobre finanças.
      O que faz a diferença é o estilo de vida e personalidade.
      Tem gente que quer aparecer de qualquer maneira, quer comprar o que não pode, que viver adoidado o hoje, mão quer ficar pra trás de amigos e familiares.

      Isso que citei na maioria das vezes é o que faz a diferença.

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    2. Acho que as pessoas simplesmente nem sabem e não procuram saber que há uma saída para a corrida de ratos. Ou melhor, elas nem enxergam que estão nessa corrida...

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